quarta-feira, julho 02, 2008

Uma história de duas irmãs


As irmãs Metralha



Elas são duas irmãs. Três, aliás, mas só duas entram nesta história. A terceira não é protagonista, mas poderia bem ser a narradora, já que tem uma personalidade espirituosa.
A mais velha das duas que entram na minha história é do tipo maternal, uma das pessoas mais adoráveis que encontrei na minha vida. Todos os dias agradeço aos céus o facto de a ter por perto.
Quem a conhece sabe que é uma pessoa honesta, de princípios inquestionáveis e incapaz de fazer mal a uma mosca. Daí ser tão engraçado vê-la envolvida numa pequena batida de carro, em que a culpada é ela, mas apenas por lapso.
É que a outra senhora, a dona do carro lesado, vinha de um episódio recente em que lhe arrancaram um espelho e fugiram, tendo ela sido obrigada a memorizar a matrícula do prevaricador e ir delatá-lo à GNR. Grande mulher! Não conhecendo a dona deste segundo carro que lhe batia agora, e ela a uns metros observando tudo, assume que esta condutora também vai fugir e grita e esbraceja e ameaça chamar a polícia, e já agora (vou delirar) os bombeiros, a protecção civil, e um representante da ASAE, que dá sempre jeito. A senhora lesada traz uma filha de 10 anos a reboque; a senhora que bateu traz um vizinho de 13 anos. Ambos a viverem o seu primeiro filme americano… a emoção do dia!
Depois tudo se resolveu a bem, a senhora lesada lá se acalmou e lá percebeu que esta condutora era a pessoa maravilhosa que eu conheço. Mas ela, a condutora que bateu no carro, é que já não se livra de ouvir as minhas piadinhas e observações:
-“ Qualquer dia ainda vai parar à prisão! Anda aí a bater nos carros todos e depois foge! É uma criminosa com rosto de anjo!”

Esta é a irmã mais velha.

A irmã mais nova é um exemplo de educação e de elegância. Fala em voz baixa, mas todos se calam para ouvir a sua opinião. Também ela é correctíssima no trato pessoal e social. Goza, como toda a família, de bom-nome e da fama de pessoa honesta, que é, realmente.
No entanto, bastou passar um cheque de uma quantia irrisória, que eu imediatamente depositei no dia seguinte, para se tornar também ela uma candidata a criminosa.
Por um lapso familiar que não vem ao caso, o marido dela julgou ter perdido a carteira e, como pessoa cautelosa, anulou os cheques.
Agora sabemos que a carteira não estava perdida. Ainda não sabemos se o meu depósito foi anterior ou posterior ao telefonema do marido solicitando a anulação dos ditos cheques. Ou se o cheque que foi passado era dos que foram anulados… O tempo o dirá.
Mas ela, a senhora que passou o cheque é que já não se livra de ouvir as minhas observações:
-“ Qualquer dia ainda vai parar à prisão! Anda aí a passar cheques “manhosos”! É uma criminosa com rosto de anjo!”

E como se não bastasse, ainda massacro as duas dizendo que, pelo menos, terão a companhia uma da outra, já que decidiram agora, em plena idade adulta, seguir a carreira de Irmãs Metralha.


Margarida Neves
Benavente, Junho de 2008

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